sábado, 8 de novembro de 2008

Na corda bamba

(conto realizado no 10º ano, não foi assim há tanto...)


Foi estranho como voltei a vir para aqui. Andei a manhã toda à espera de notícias. Fico ou vou? Deixo-me cair ou eles mandam-me voltar para baixo? Não sei. O circo está demasiado pequeno para mim. Por enquanto estou em cima da corda, à espera. Não tenho pressa, a sério que não. Já tentei de tudo: linhas rectas, linhas curvas, linhas diagonais, linhas até imaginárias. Mas não! Limita-se tudo a andar à volta. E gira, e gira...
- Carolina! Estás aí em cima?- ouvi uma voz ao longe.
- Sim, estou. Podes entrar, e subir se quiseres. - respondi eu afundada numa estranha melancolia.
- Não deixa estar, sabes que nunca me dei muito bem com as alturas. Só vim para te dizer que..
- Diz! Diz! Diz-me que tens notícias e que eu não preciso de ficar aqui para sempre.
A face do Zé nunca tinha estado tão triste, nem quando fingia que era um palhaço só e pintava lágrimas no rosto. Deduzi por tal expressão que as noticías não eram boas. Para quando a boa-nova? Para quando? Quanto tempo mais vou ter de esperar para ser livre e voar para onde não existem limitações e as linhas não têm principío nem fim? Não sei. Após um silêncio aterrador decidi dizer qualquer coisa. Só para não parecer que estava assim tão insegura.
- Zé, sabes, quando estou aqui em cima e tenho uma multidão aí em baixo a aplaudir-me sinto-me como os leões presos nas jaulas. Por mais bonito que seja o espectáculo que eu dou, nunca me dão o bife que mereço. Só me vêm como alguém que anda em linha recta, de um lado para outro, sem hipóteses de escolha. Mas eu não sou assim. Sabes disso não sabes?
- Sei. E sei que o mais lindo espectáculo que dás é quando as luzes da ribalta se apagam e tu ficas aí em cima a fazer de uma limitação um espaço só teu. Eu sei que tu andas à roda, eu sei que sim.
Não sei, talvez ele não tenha percebido a ideia. Eu não ando à roda! Não ando! As rodas são fechadas e eu preciso de espaço. Eu preciso de sair do círculo que me envolve. Eu preciso de possuir o círculo. Mas será que alguém me entende?
-Zé... - disse eu com uma calma aparente.
- Diz Carolina, diz.
- O que é que me vinhas dizer? Interrompo-te sempre com os meus devaneios mentais. Não tenhas medo de dizer. Fala rapaz!
- O jantar está pronto.

1 comentário:

MC disse...

"Eu não ando à roda! Não ando! As rodas são fechadas e eu preciso de espaço. Eu preciso de sair do círculo que me envolve. Eu preciso de possuir o círculo. Mas será que alguém me entende?"

Como eu a entendo, Maria João!! Todos precisamos de "possuir o círculo"!! sair e repudiar o que nos oprime, quer venha de fora, quer esteja dentro de nós!

Escreveu este texto no 10º Ano..realmente, não foi assim há tanto tempo. Mas há alturas da nossa vida em que o tempo passa tão devagar!!(ou será ao contrário??)