terça-feira, 25 de novembro de 2008

Eterna Palavra

A saudade chegou lentamente, quase que como escondida entre as recordações que há tanto foram impregnadas. Não teve qualquer aviso prévio, não teve medo de avançar, diria até que chegou em ocasião inoportuna, como se ela escolhesse a hora certa...E não veio só: junto a ela encontro inúmeras memórias, fotografias, músicas, vídeos, postais e tantas outras coisas que hoje me servem de sustento à alma. Como é bom olhar para trás e sentir ainda um abraço reconfortante de tudo aquilo que hoje me enche o coração de saudade.
Recordo os pés descalços que vaidosamente se passeavam pelas pedras da calçada já gastas dos nossos passeios; as tardes em telhados de casa com vistas que só nós alcançámos; os braços que me enrolavam numa mistura de emoções da qual eu não queria sair; os escorregas que inventámos e os baloiços que nos faziam rir; as simples pedras e paredes que em todo lado serviam para nos sentarmos e passarmos ali um bom bocado; as conversas e piadas demasiado nossas em bancos desconhecidos (ainda hoje os reconheço).
Já que a saudade não pode trazer este prazer de volta então que nunca chegue, porque eu não quero sentir falta do que um dia me deu a certeza que, valia a pena encontrar um sorriso no dia mais escuro da vida.

(em memória da minha sempre turma, 10º H, A Família)
Como diria o stôr de Português: "Tanto em tão pouco."

1 comentário:

Anónimo disse...

Ocorrem-me estes versos de Álvaro de Campos, aliás ocorrem-me sempre, sempre que se fala de saudade!!

«Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...»


(De "Lisbon revisited", Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa)

Ah!! esta impossibilidade dolorosa de recuperar o passado!

(em memória de tantas coisas: pessoas, objectos, lugares!)