terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

She

Um vento tardio fez questão de marcar presença naquele final de tarde.O sussuro calmante das folhas, agora cobertas de um verde caprichoso, alimentavam aquela paixão. Tudo era possuído por um encanto primaveril e as cores do céu nunca tinham sido tão suaves e esbeltas. De uma forma simples e sem rodeios, ela estava prestes a chegar.
Prossegui caminho: os prados envoltos numa harmonia cautelosa aguardavam com ternura os meus passos lamacentos; as ramagens cobriam-me de uma luz dócil e gentil. Estava quase lá, quase. Com algum receio e pensamentos dúbios avancei; tinha acabado de chegar: e nunca ela fora tão bela. Estava coberta por um manto mais pesado que o seu próprio corpo e a sua face pálida deixava transparecer todo aquele ser repleto de imaginário. Cedi mais uma vez, e se pudesse...repetia todo o trajecto descalço.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Entendimentos

O ser está demasiado aprisionado ao seu corpo enquanto fisíco, intimamente ligado à sua consistência enquanto matéria; pontos inúteis e desnecessários para a compreensão do espiríto. Tudo aquilo que o atormenta são necessariamente os aspectos em que se concentram a sua incapacidade de imaginar.
A sua existência, tão ela ligada a tecidos, sensações, inteligência e poder, acaba por ser limitada ao ponto de se poder extinguir. A alma? Essa não compreende de maneira alguma a tamanha pequenez deste mundo sensível.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Máscaras

Estamos perante uma sociedade estéril, que cria estereótipos e em nada é original. Uma sociedade que ainda vê adolescentes como seres incoscientes e que tem como objectivo matar a natureza.Não são precisos muitos exemplos, cada um só tem um umbigo e por isso só olha para ele, o pior é quando não têm...Uma comunidade em que o simples é complexo e tudo o que for criativo é insano.
Preconceitos que destroiem o ser ao seu mais alto nível e que nos tornam mais irracionais que os animais. O único interesse verdadeiro que este Homem moderno possui é a riqueza, tudo o resto é acessório.
O que vale é que eu sou adolescente e assim sendo, sengundo eles, sou um ser em metamorfose, um ser que só quer se divertir e que aprende com os seus erros ( e eu a pensar que a vida devia ser levada desta forma...). Que seja então, mas eu sou hábil e não débil e tenho a certeza que vou dar uma linda borboleta.

"I've gotta say what I've gotta say
And then I swear I'll go away
But I can't promise you'll enjoy the noise "

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Letras errantes

Não posso, não quero, não consigo, de maneira alguma caracterizar algo com uma única palavra. As indecisões completam-me todos os dias e as diversas escolhas fazem-me cair numa loucura ávida de sabedoria.
Uma essência jamais poderá ser descrita com um conjunto de letras errante, uma palavra que poderá até não ser digna de tal caracterização. Mas, se essas letras de que vos falo, forem tão fortes quanto o objecto, encontro-me no pleno direito de as adjectivar as vezes que forem precisas. A beleza soante, entoada por uns doces lábios mecanizados, é tão necessária como a pureza da essência.

"A sonoridade de um adjectivo é mais importante que a exactidão de um sistema."
(Eça de Queiroz in Maias)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

D'oiro

Sempre considerei tudo prateado, nunca gostei muito do amarelo que teima em brilhar.
Poli todas as faces possíveis, e insisti em limar todas as arestas para que a peça fosse suficientemente boa para meu consolo. Serrei sempre na vertical, não queria que fosse um objecto barato; perfurei cuidadosamente a chapa de metal para que não se levantassem grandes poeiras; soldei com paciência até ficar laranja mas não em demasia, não podia fundir fosse o que fosse.
Hoje, depois de ter a peça terminada, depois de longos dias afundados em bancadas inseguras, depois de ter as mãos calejadas e o corpo suado, deparo-me com uma inquietante situação: por mais que tente, nenhuma peça estará à altura do meu perfeccionismo.

Stay gold.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Evidências

Deparei-me hoje, talvez ontem ou amanhã, com uma situação interessante: gasto o tempo (se é que existe) à procura de solidificar os argumentos que acho constituintes de bases sólidas; percorro espaços (se é que são reais) procurando estruturar teses inabaláveis por um simples céptico preso à sua matéria enquanto físca; e, depois de verificar que todos os passos que dou são duplamente avaliados (vá-se lá saber por quem ou pelo quê), conclui que de nada me serviriam todas as razões que julgava encontrar e aceitar enquanto verdadeiras.
(...)
Sendo tudo tão abstracto e metafísico porque não definir caminhos segundo o vento, seguindo setas contraditórias, partindo do princípio de que tudo é uma realidade indefinida?
Porque isso posteriormente será uma interrogação evidente da qual não quero ser autora.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Liberdades

Não fazem parte de mim amores efémeros, por isso silenciei em mim todas as palavras.