segunda-feira, 13 de abril de 2009

Deuses e Deuses

O céu anunciava mais uma bela manhã de Domingo e todas elas tinham o seu encanto. Adorava aquele ritual: eram 9h e eu já estava pronta com os meus sapatos mais bonitos e o longo cabelo penteado; as unhas roídas e as sardas características denunciavam a minha atitude e o facto era que eu só aguardava a boleia para a igreja.
Os sinos tocavam às 10h e eu esperava ansiosamente para entrar na festa: era como se naquele instante tudo fosse puro e imaculado e a minha alma se elevasse ao mais alto nível. Todos eram bons, todos desejavam a paz de Cristo enquanto eu entoava as notas de glória. As palavras ditas por aquele Senhor de sandálias e meias soavam-me melhor que hoje as do Aristóteles e, as leituras vindas de um velho livro empoeirado, eram recebidas com alegria.
Hoje cresci, demasiado até. Ao crescer uma enorme quantidade de pecados fica arrecadado e todas as confissões se tornam insuficientes. Hoje percebo que os gestos bondosos não passavam de hipocrisia, que o dinheiro para os pobres empregou-se lindamente numa nova estátua e que para além das portas da igreja ninguém era irmão de ninguém. Não sei que Deus adoravam eles, mas o meu mantém-se inalterado no espírito e muito além da materialização que lhe atribuem.

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